28 Out Jurados do reality ‘Que Seja Doce’ querem ser ‘generosos’ e ‘construtivos’ nas críticas
Enquanto um jurado do “Bake Off” (SBT) compara um brigadeiro a cocô de cavalo e Buddy Valastro (Record) manda participantes “calarem a boca”, há um reduto da confeitaria na TV paga que se mantém fiel à doçura, dentro e fora das panelas.
“Não adianta falar ‘ah, isso aqui tá uma merda’. Não é só isso, é por que [está ruim]”, defende Carole Crema, jurada do “Que Seja Doce” (GNT), reality especializado em confeitaria.Roberto Strongoli, outro jurado, acredita que críticas mais incisivas explicam a crescente popularidade dos reality shows de culinária. “Pimenta no olho dos outros é refresco. Então reality é muito bom para quem não cozinha”, opinou. No “Que Seja Doce”, ele evita aplicar essa fórmula, optando pela “crítica construtiva” e não “destrutiva”.
O programa está hoje em sua primeira temporada, com uma segunda temporada sendo gravada para o ano que vem. O “F5” visitou uma gravação do programa —o cenário, em tons pastéis, dita o clima no qual os jurados avaliam os pratos, dando dicas para que os confeiteiros possam melhorar suas receitas.
ENSINAR A COZINHAR OU ENTRETER?
Para Roberto D’Avila, diretor do programa, o reality é mais suave que os concorrentes porque a prioridade é valorizar um serviço ao espectador, dando dicas para quem está em casa.
“A TV sempre teve culinária na sua programação. O fenômeno recente é que a culinária está migrando para o horário nobre, quando está todo mundo na frente da televisão, não só quem cozinha. Então o reality dá outras coisas a que o espectador pode se apegar, que são os personagens, se a pessoa é divertida, engraçada”, comenta.
Por isso, para ele, o reality tem um princípio narrativo mais próximo do entretenimento, enquanto os programas tradicionais de culinária tendem para o gênero educativo. No “Que Seja Doce”, o objetivo é conciliar as duas abordagens.
CADA DIA UM VENCEDOR
O programa tem exibição diária. Em capa episódio, três concorrentes participam de duas provas para decidir quem é o melhor confeiteiro.
D’Avila comenta que esse modelo, de uma competição fechada por episódio, é vantajoso para a TV paga. “A gente prefere que os [realities] diários sejam assim, porque a pessoa pode acompanhar todo dia ou ligar uma vez só e ver o episódio completo. Assim também tem mais valor de reprise”, explica.
É DOCE, MAS NÃO É FÁCIL
Crumble, ganache, massa brisée, sablé, creme inglês (que não é molho Worcestershire). São termos que, em um momento de distração, podem sair da boca de um dos jurados do programa.
“A confeitaria é extremamente técnica, precisa. Não tem a mesma vivência empírica que a cozinha, em que você pode pôr água para diluir o sal, por exemplo”, comenta Strongoli.
Strongoli chama a atenção por seu rigor técnico. Ao degustar os pratos, ele desmonta, esfrega, espalha pelo prato e cheira, tudo para “decupar” o doce e deduzir, a partir da textura e dos gostos, como foi o processo de preparo e quais os ingredientes utilizados. Ele diz que começou a se policiar para não usar tantos jargões e procura, hoje, explicar de forma ilustrativa.
No episódio acompanhado pelo “F5”, ele comparou um doce a um “biscoito de comer na hora do recreio que tomou chuva” e comentou que “no forno, esse creme fica brega”.
Lucas Corazza, também jurado do programa, diz que tenta descrever a sensação que teve ao comer e “ser generoso” com o espectador. “Da mesma forma que a gente cozinha com amor e se preocupa com quem recebe aquela comida, aqui a gente fala com amor com quem vai receber aquela informação”.
Carole Crema comenta como foram orientados os jurados. “A gente teve um briefing, depois de uns dias, dizendo olha, as pessoas não estão sentido o gosto em casa. Então a gente tenta ser descritivo e muitas vezes, durante as gravações, é orientado a explicar: ‘Você está falando mousseline, o que é isso?’. A gente internalizou isso e ficou natural”.
Quando não há como explicar sem um termo técnico, o programa apela para um gráfico na tela, explicando o significado das palavras. Apesar de difícil, passar a ideia dos gostos não é impossível. Afinal, como lembra Lucas Corazza, “todo mundo come todos os dias —esse senso de identificação, de ‘gosto’, ‘não gosto’, é muito divertido e faz sentido para o público”.